Soluções sustentáveis
para o uso da água


Dados da Agência Nacional das Águas (ANA) mostram que a demanda por uso de água no Brasil deve aumentar em 30% até 2030. Para que o país não passe por crises hídricas no futuro, pesquisadores, empresas e órgãos públicos buscam soluções para evitar o desperdício. Aproveitamento da água da chuva, reúso, construções sustentáveis, dessalinização e despoluição são algumas delas.

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“Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de Sinha Vitória, as palavras que Sinha Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes”


Trecho do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos

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Por Líria Jade, Edgard Matsuki e Priscila Ferreira.

Fabiano, da ficção de Vidas Secas (1932), costumava sonhar de olhos abertos. Imaginava as crianças dele com outro futuro, fartando-se em água. Mas conviviam com a falta... Não só no passado. Em pleno século 21, o gesto de abrir uma torneira em casa ou acionar a irrigação no campo ainda não é diário, imediato ou real em algumas regiões no país.

Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) mostram que a demanda por uso de água no Brasil deve aumentar em 30% até 2030. Isso não é ficção. Para que o país não passe por crises hídricas no futuro, pesquisadores, empresas e órgãos públicos buscam soluções para evitar o desperdício. Aproveitamento da água da chuva, reúso, construções sustentáveis, dessalinização e despoluição são algumas das medidas possíveis para que a falta não se torne rotina.

O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, lançado no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, propõe a busca de soluções baseadas na natureza (SbN), que usam ou simulam processos naturais, como alternativas na gestão da água no mundo.

Em um momento de mudanças climáticas e de escassez de água, a articulação do setor privado com governo, academia e entidades da sociedade civil torna-se essencial para garantir o abastecimento no futuro. Conheça algumas experiências voltadas às boas práticas no uso da água em diferentes regiões do Brasil.




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Saneamento sustentável

A cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, possui atualmente mais de 70% do esgoto tratado, um índice considerado alto se comparado aos demais municípios brasileiros. Um dos responsáveis por essa realidade é o projeto Saneamento Sustentável − a Utilização de Biossistemas e a Educação Ambiental em Comunidades de Baixa Renda. A iniciativa busca solucionar problemas de saneamento com a utilização de biodigestores em regiões de topografia acidentada e de difícil acesso do município.

Os biodigestores possibilitam o reaproveitamento de detritos para gerar biogás e adubo. O processo de tratamento por biodigestores é feito com câmaras sem luz ou oxigênio que drenam a água do esgoto e usam bactérias naturais para digerir a massa orgânica restante.

Em Petrópolis, os biodigestores são alimentados pelo esgoto das casas. O processo é dividido em três etapas: o esgoto entra no sistema por um tanque que retém o lixo; em seguida, um outro compartimento separa a gordura; e a última etapa ocorre no biodigestor, onde as bactérias começam a agir e fazem cerca de 60% da limpeza. Nesse processo, é produzido o biogás que pode ser usado nos fogões residenciais.

Os biodigestores devolvem para o meio ambiente água com até 85% de pureza. Nos filtros de tratamento, são usados pneus e garrafas pet, fazendo com que esses materiais poluentes, que têm prolongado tempo de decomposição, desempenhem uma função mais nobre.

De acordo com Márcio Salles Gomes, diretor da Águas do Imperador, concessionária responsável pelo projeto, o objetivo é resgatar o uso de técnicas biológicas limpas para gerar energia renovável enquanto protege o meio ambiente. “Além da despoluição dos rios, a instalação de biodigestores proporciona uma série de benefícios para a localidade. O biogás é oferecido para escolas, creches ou moradores da região”, diz.

“O trabalho de tratamento de esgotos realizado por meio de biodigestores tornou-se referência nacional e internacional. Comitivas de diversos países já nos visitaram para conhecer este sistema”, explica o diretor do projeto.

Petrópolis tem 10 biodigestores instalados nos bairros de Caxambu, Quarteirão Brasileiro, Córrego Grande, Vila Rica, Vila Ipanema, Independência, Siméria, Bonfim e Nogueira, além de um biossistema no Vale do Carangola, que juntos beneficiam mais de 92% da população da cidade. Diariamente 61,8 milhões de litros de água são tratados por meio desse sistema. De acordo com Salles, desde o começo do projeto, esses equipamentos garantiram o reaproveitamento de mais de 200 mil garrafas pet e quase três mil pneus.

O projeto também tem buscado gerir os recursos hídricos da região de maneira mais eficaz por meio da tecnologia. Um software é utilizado para regular o bombeamento de água de acordo com a demanda. “Com a rede integrada podemos controlar onde tem mais ou menos água e redirecionar os fluxos em tempo real, com base nos dados apontados pelos algoritmos ao software”, explica.

“Soluções como essa são importantes para evitar uma futura crise hídrica”. É o que acredita o professor de Engenharia Civil e Laboratório de Hidrologia e Hidrometria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jefferson Nascimento de Oliveira. “As soluções estão relacionadas não só ao déficit de entrada de água, mas também desperdício gerado pelo mau gerenciamento e mau uso”, enumera.





Cisterna sustentável e livre para uso

Criar um sistema de baixo custo que reaproveitasse água da chuva a fim de garantir economia de até 80% no consumo de água de residências. Esse era o desejo do técnico agropecuário Edison Urbano quando começou a desenvolver, há cerca de dez anos, uma minicisterna para aproveitamento da água da chuva em tarefas cotidianas como limpeza, irrigação e lavagem de roupas.

O sistema, formado por dutos para coleta da água, filtros para descartar impurezas e um tambor (que pode ser substituído por uma caixa d'água em casos de sistemas maiores), tem, de acordo com Urbano, um funcionamento relativamente simples. A água da chuva, coletada por meio de calhas em telhados, passa por sistemas de filtros e acaba armazenada em um tambor. A água da cisterna pode ser utilizada por meio de uma torneira.

Há alguns detalhes que garantem o funcionamento do sistema: um freio d'água é instalado para deixar os sedimentos no fundo do tambor de armazenamento e telas são instaladas para evitar a proliferação de mosquitos (como os da dengue). Pelo mesmo motivo, um “telhado verde” é plantado na tampa do sistema e há um duto que despeja a água excedente.

Urbano optou por disponibilizar todos os detalhes sobre a criação e funcionamento do sistema em um site. Na página, há manuais detalhados para que qualquer interessado construa o sistema. “Caso a pessoa tenha alguma dúvida, eu deixo um e-mail disponível para que façam questionamentos. Eventualmente, eu ministro cursos ensinando a montar o sistema”, conta.

Por disponibilizar um sistema livre e gratuito para uso, Urbano não tem controle de todos que utilizam a cisterna que aproveita água da chuva. “É muito difícil dar um número de pessoas que se beneficiam. Como é um projeto livre, muitas pessoas usam e eu nem fico sabendo”, diz.

Um dos projetos que adotou as tecnologias de Urbano é o Amana Katu. Promovido por alunos da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Amana Katu visa construir as cisternas para serem utilizadas em comunidades de Belém que não têm acesso à água potável. “A gente montou uma parceria com o professor Urbano. Depois, o sistema, com ajuda de professores da UFPA, passou por algumas modificações para se adequar à realidade do Pará”, conta Marivana de Almeida, estudante de engenheira civil e participante do projeto.

Uma das mudanças foi a implementação de um filtro industrial que possibilita que a água da chuva se torne potável. No momento, seis jovens de comunidades de Belém fabricam as cisternas. “A cada cinco cisternas vendidas, a gente faz a doação de uma. Com o crescimento do projeto, a gente visa a atingir 1.600 famílias que não têm acesso à água potável em bairros e ilhas de Belém”, diz Marivana.




Aproveitamento de água da chuva

Um dos professores da UFPA que apoiam o Amana Katu é Ronaldo Mendes. O geólogo é responsável por outro projeto na instituição. O projeto Aproveitamento de Água da Chuva da Amazônia tem como objetivo ampliar o acesso à água potável e minimizar a incidência de doenças na Ilha de Murucutu e Ilha Grande, em Belém. Atualmente, o projeto beneficia nove famílias nessas duas ilhas.

O professor explica que o objetivo é recolher e tratar a água da chuva para que possa ser reaproveitada. Ele explica que, das calhas, a água é direcionada para um filtro, feito de areia fina e cascalho, que elimina a maior parte das impurezas. Em seguida, segue para uma segunda caixa d’água. “Por último, os moradores recolhem e desinfetam a água”, finaliza o professor.

Mendes conta que o projeto surgiu em 2007 para atender a demanda por água potável de famílias da região. “Notamos que, apesar de ser uma região com abundância em água, nem sempre essa água é potável devido à poluição ou à falta de tratamento adequado”, relembra. Segundo o professor, o projeto se inspirou no uso de cisternas, muito utilizadas na Região Nordeste, que tem como objetivo armazenar a água da chuva.

Os pesquisadores realizaram primeiramente um diagnóstico da situação hídrica local. O levantamento inicial verificou que 43% dos ribeirinhos tinham suas necessidades hídricas atendidas pela compra de água de poços sem qualidade comprovada. Esse gasto gerava um impacto de cerca de 11% na renda familiar. “Os moradores dessas regiões gastavam mais do que os de Belém com a água”, explica Mendes.

A pesquisa revelou ainda que 45% da população de Ilha Grande não realizavam o tratamento de água. Em Murucutu, o índice era de 30%.

Então, para a efetivação do projeto, além da instalação do sistema de captação, Mendes destaca que foi feito um trabalho de educação ambiental com as famílias. “Ensinamos sobre abastecimento, higiene, consumo consciente e doenças. Os moradores participam da construção, instalação e eles mesmos são responsáveis pela manutenção do equipamento”, complementa.




Fórum Verde

Em 2012, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) inaugurou o primeiro edifício sustentável do Judiciário brasileiro. O prédio ficou conhecido como Fórum Verde, por causa das soluções sustentáveis que foram adotadas desde a construção, como a utilização de madeira de reflorestamento, o aproveitamento da iluminação natural e a chamada ventilação cruzada, que possibilita melhoria na circulação do ar e diminuição no consumo de energia.

Para otimizar o uso de recursos hídricos, foi instalada uma rede de captação de águas pluviais. O que é armazenado é reutilizado nas descargas, na lavagem de pisos e na irrigação de jardins. Além disso, os sanitários instalados permitem economia no consumo de água.

Para reduzir a carga térmica do edifício, foi feita uma cobertura ajardinada no teto. Além disso, existe ainda uma estação compacta para o tratamento de resíduos. E para incentivar que servidores e frequentadores do local também façam opções mais sustentáveis foi instalado um bicicletário.

“A construção civil é um dos setores que mais gera impactos, tanto quanto ao uso de energia, água, até o esgoto. Além de as obras gerarem resíduos com impacto poluente, que levam muito tempo para serem absorvidos pela natureza. Neste sentido, a legislação nacional é ampla e rígida quanto aos critérios construtivos”, destaca a coordenadora de Gestão Socioambiental do TJDFT, Adriana Tostes.

Na contramão da tendência atual de maior demanda por água, os dados do tribunal demonstram redução do consumo nos últimos anos. A coordenadora explica que no TJDFT, uma parceria com a Companhia de Água e Esgoto de Brasília (Caesb) permitiu a instalação de hidrômetros digitais que apuram em tempo real, qualquer consumo fora da média, detectando vazamentos. A medida permitiu melhorar o monitoramento e resolver imediatamente possíveis problemas.

No dia a dia, outros cuidados são adotados pelo tribunal, como por exemplo, a lavagem das caixas d’água. Em vez de ser feito um esvaziamento proposital, monitora-se o gasto até o esvaziamento total para depois começar a lavagem, evitando o desperdício.

Além das ações práticas, o tribunal também realiza campanhas de educação ambiental. A coordenadora lembra que um dos vilões no consumo de água são os aparelhos de ar condicionado, então, para conseguir bons resultados é preciso o engajamento dos funcionários. “O comportamento dos usuários é a balança do desperdício. Por isso, as campanhas de conscientização são permanentes”, explica.




Limpeza de córregos

O projeto Floresta Cultural surgiu da vontade de transformar um local abandonado, degradado e poluído, em uma área verde e limpa de mais de 200 mil metros de nascentes e córregos, na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo.

De acordo com Eduardo Prado, facilitador do projeto, as pessoas sentiam medo do lugar. "Como proposta, entramos nesse terreno com o objetivo de tirar o lixo, de limpar o córrego, de replantar a mata e, principalmente, de chamar a comunidade para aquele lugar", lembra.

Ao longo dos seis primeiros meses, o projeto contou com duas pessoas. Até que a comunidade local foi se aproximando, num primeiro momento, até mesmo para duvidar que aquele território seria um lugar bom para se desfrutar.

Eduardo afirma que o trabalho de limpeza diário do córrego e do cuidado com a região fez com que a comunidade se empoderasse do local. "Nosso principal foco é criar uma rede de afetos positivos para o lugar, em que o próprio cidadão possa se sentir seguro e confiante de cuidar da região", afirma. Hoje, após dois anos do início do projeto, "Sorocaba está olhando para aquele lugar, que começou a ser frequentado pela comunidade", conclui.



Aeroportos sustentáveis

Para contribuir com a gestão racional dos recursos hídricos, estratégias de reúso de água também estão presentes em alguns importantes aeroportos brasileiros como o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Confins, em Belo Horizonte.

No Santos Dumont, a captação e uso de águas das chuvas minimiza os gastos de recursos hídricos. Para viabilizar a coleta, o telhado do aeroporto carioca foi “transformado” em um coletor com quase 10 mil metros quadrados de área e capacidade de um milhão de litros. A quantidade é suficiente para suprir a demanda dos banheiros do aeroporto durante 37 dias.

Além disso, o consumo de água no aeroporto também foi reduzido a partir de outra iniciativa: a instalação de oito “mictórios ecológicos” que não necessitam de água para funcionar. Nos banheiros foram colocados ainda dispersores que geram economia de 80% na vazão de água de cada torneira, de acordo com a administração do aeroporto.

O aeroporto de Confins, da concessionária BH Airport, também tem importantes iniciativas para melhorar a gestão de recursos hídricos. O terminal possui duas torres de reúso. A água reaproveitada é utilizada nos banheiros. “Todas as águas utilizadas em chuveiros, lavatórios e pias (água cinza) são tratadas e reutilizadas para descarga dos sanitários e abastecimento do sistema de ar-condicionado.”, exemplifica o gestor de Infraestrutura da BH Airport, Rogério Romeiro.

A utilização de águas cinzas (reutilizadas) nos sistemas de ar-condicionado garantem boa parte da economia. “Cofins adota uma tecnologia de ar-condicionado que faz termoacumulação. Nesse sistema, a reposição de água perdida na evaporação ocorre através do sistema de águas cinzas, já usadas”, explica Romeiro.

Rogério Romeiro explica ainda que já existe o projeto de instalação de dois tanques subterrâneos com a finalidade de reúso, além disso devem ser construídas ainda estações de tratamento.

Quando todo o sistema estiver em funcionamento, de acordo com o gestor Rogério Romero, a administradora do aeroporto estima uma redução de 23% no consumo de água potável. “A demanda por água não potável atualmente é na ordem de 12.520 m³ por mês. Estima-se uma economia média futura de água potável de 4.800 m³/mês ou aproximadamente 58.000 m³/ano com a técnica de reaproveitamento de água”.

Demais aeroportos

Assim como o Santos Dumont, outros 17 terminais da Rede Infraero utilizam soluções sustentáveis com o propósito de reduzir os gastos e preservar os recursos hídricos. “Essas ações geram, atualmente, uma economia superior a 40 mil m³ por mês, o suficiente para abastecer uma cidade com 4 mil residências, por um mês inteiro”, destaca o superintendente de Meio Ambiente da Infraero, Fued Abrão Júnior.

Nos aeroportos administrados pela Infraero, mais de 17mil m³ da água aproveitada para fins não potáveis vem da coleta de água de chuva, entre outras ações, segundo Abrão Júnior.

A construção de aeroportos sustentáveis é incentivada pela empresa. O superintendente explica que tais medidas são previstas no capítulo de Recursos Hídricos do Memorial de Critérios Sustentáveis para Empreendimentos da Infraero, que é utilizado nas obras da empresa. No manual, estão listadas diversas ações que direta ou indiretamente contribuem para a redução do consumo, desperdício, custeio e manutenção da qualidade da água, bem como contribuições para a eficiência do sistema de tratamento de esgoto. “Como exemplo disso, temos os novos terminais de passageiros dos aeroportos de Curitiba e de Goiânia, que nasceram com uma série de ações de aproveitamento de água de chuva, reúso de águas cinzas e aproveitamento da água de condensação do sistema de ar condicionado”.

O superintendente ressalta ainda a ação de reaproveitamento da água nos testes diários dos Caminhões Contra Incêndio (CCIs), que ocorre em 10 aeroportos da empresa “[Essa ação] teve origem no Aeroporto de Campina Grande, situado em pleno agreste nordestino, e está concorrendo no 7º Prêmio da Agenda Ambiental na Administração Pública de Melhores Práticas de Sustentabilidade”.



Integração universidade e comunidade

Fruto de uma rede de pesquisa coordenada pela Universidade de Brasília (UnB) e Embrapa, o AquaRiparia surgiu para integrar pesquisadores, professores e estudantes às comunidades que vivem próximas a uma bacia hidrográfica. Por meio de uma formação, o projeto oferece conhecimento, técnica e estratégias a qualquer cidadão que deseja cuidar de sua bacia hidrográfica.

Segundo Suéle Santolin, pesquisadora da UnB, como parte das atividades, a rede instrumentaliza alunos de iniciação científica das escolas de ensino médio ao realizar oficinas semanais falando sobre qualidade da água e preservação da mata ciliar, por exemplo. "A gente também realiza testes utilizando kits de avaliação de água que possibilita a eles entrarem em contato com esses parâmetros e entenderem o que esses dados têm a nos falar sobre a qualidade desse ambiente", explica.

A formação em "cientista-cidadão" é uma proposta para ampliar o monitoramento das bacias. Por meio de conteúdos e práticas de campo, o cidadão é capacitado a obter dados que indicarão a qualidade da água que, por sua vez, integrarão pesquisas de monitoramento das bacias.

Uma dessas capacitações diz respeito a oficina de coleta de invertebrados nos riachos. De acordo com Suéle, a presença de determinados insetos como besouro e larva da libélula, por exemplo, podem indicar boa qualidade da água.

"A intenção é instrumentalizar de forma mais científica os alunos de ensino médio para que eles tenham conhecimento de como utilizar o kit de avaliação de qualidade e interpretar o que essas informações dizem acerca do ambiente, como se fossem sentinelas daquela região", conclui.






Profissionais em gestão hídrica

Formar profissionais capacitados que entendam de forma sistêmica a gestão de recursos hídricos também é um desafio. Por esse motivo, tem crescido a oferta de cursos de pós-graduação na área ambiental. Eles buscam formar profissionais com habilidades de planejamento, gestão e capacidade de implementar soluções rápidas e criativas.

O Rio de Janeiro está totalmente inserido na Região Hidrográfica do Atlântico Sudeste, apresentando boa disponibilidade hídrica superficial e baixa presença de sistemas aquíferos significativos. Dos mananciais utilizados, destaca-se o Paraíba do Sul, cuja a bacia abastece 57 municípios fluminenses ao longo do seu percurso. Somente o Rio Paraíba do Sul abastece 17 municípios e nove cidades da região metropolitana.

A professora e coordenadora das Iniciativas Empresariais do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mariana Nicolletti, avalia que a maior parte dos cursos está focada na perspectiva estratégica de negócios, a partir da gestão de riscos. “As empresas buscam entender melhor a chance das unidades de produção ficarem sem acesso à quantidade e qualidade de água necessária para o processo produtivo, e qual é o impacto disso”.

Para Nicolletti, a tendência é que as reflexões sobre gestão da água se ampliem para uma visão mais sistêmica. “As empresas pensam muito sobre a diminuição do consumo, reúso e mudanças tecnológicas que possam reduzir a dependência de água na atividade principal da empresa, mas poucas olham para fora e começam a fazer análises no nível das bacias hidrográficas, considerando os atores envolvidos, os múltiplos usos e o sistema socioeconômico, posicionando as empresas num sistema mais amplo”, diz a coordenadora.






Soluções pelo mundo


Cerca de 2,1 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A informação está no primeiro levantamento global, feito em 2017, sobre água, saneamento básico e higiene feito pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo dados do Banco Mundial, até 2050, mais de um bilhão de pessoas viverão em cidades sem água suficiente. Por esse motivo, se torna ainda mais importante a busca por soluções para o uso da água.

Conheça soluções que algumas cidades do mundo já adotam para a otimização dos recursos hídricos

Expediente


Reportagem: Líria Jade
* Colaboraram: Edgard Matsuki, Luiz Cláudio Ferreira e Priscila Ferreira

Edição: Ana Elisa Santana, Carolina Pimentel, Ligya Carvalho, Luiz Cláudio Ferreira e Noelle Oliveira

Design, infografia e implementação: Alexandre Krecke, Marcelo Nogueira e Samara Prado

Imagens: Jorge Monforte